O quarto estava escurecido pela luz do luar que se espreguiçava lá fora. A melancolia do espaço vazio à minha frente fez-me esquecer da minha existência. E lá estava o teu olhar, esses olhos que tremem repetidamente quando não querem entrar na luz da minha alma, com receio do que possa dizer, esses olhos que alimentam um sorriso mais belo que a aurora boreal num momento de pura felicidade. E lá estava o teu silêncio, deliciado nesse sorriso como se de um bolo de chocolate se tratasse. Inalei o ar que me apertava na procura de uma sensação de alivio, nas pernas que cediam, no sangue que apertava as veias, na dor que afligia a minha alma. Retornei a mim quando uma mão me levou a encontrar o teu cheiro na almofada deixada sobre a cama. Apenas ali estava eu mas ainda ali estávamos nós. Sentei-me no chão a tremer devagarinho de emoção. Apertei os fios do tapete branco por entre os dedos das minhas mãos pra eu não me fugir, levei os olhos ao chão para me orientar. Dos meus olhos alguém decidiu abrir a comporta que refreia o rio da tristeza e felicidade. Não estranhem… o rio é o mesmo… a magia é feita no momento em que abro os olhos e a lágrima cai... e esta é uma lágrima de profunda intensidade. Sinto-a deslizar pela pele lentamente, como se a cravasse para não se soltar até ao seu destino. Abro os olhos em direcção ao teu espaço vazio sobre os lençóis. Sei que não estas ali mas vejo o teu corpo pintado a transparência. Deitada sobre ti, dormes pacificamente num silencio apaziguador. Por momentos sou inundado por uma paz interior que acredito que só os anjos sejam capazes de sentir. Estás em mim, penso. E recupero-me de mim, inspiro agora o ar que me aquece e alimenta, ouço o meu coração bater mais forte e ritmado, as pernas sentem novamente o impulso do sangue e sigo… sigo porque… está na hora… está na hora de matar estas saudades…